Os brasileiros são naturalmente atraídos pelo magnetismo das coisas fúteis; sintomática é a atenção que se dispensa a um reality show como o BBB.
Atualmente badalado apenas pelo Grupo Globo e a sua tentacular rede de mídias, o Big Brother Brasil se tornou a fórmula esgotada, o de ontem, o de hoje, o de sempre, o diário da serialidade alienante, ou nada mais do que um retrato do magnetismo das coisas fúteis.
Estranho é que, em meio a tantos assuntos possíveis, importantes e discutíveis para a sociedade brasileira no momento, um raso programa de entretenimento ocupará as mesas de bate-papo e as redes sociais.
O brasileiro continua pagando pela atração que tem ao fútil. É como se a socialização e os aspectos de um isolamento programático de um grupo de pessoas pudessem ser analisados num reality show onde prevalecem corpos musculosos, piscina, festas, promiscuidade sob os lençóis e os mais intensos arroubos de egoísmo e frivolidade.
A crítica, entretanto, não denigre o BBB. É que nenhum programa de TV é tão ruim que não possa ter alguém para assisti-lo.
Aos poucos, as notícias fundamentais começam a ser suprimidas por uma enxurrada de notícias do jornalismo de entretenimento que respirará por algumas semanas o enredo de uma história dezesseis vezes contada anteriormente. É como se o país, involuntariamente, entrasse em torpor para acompanhar o vazio da inutilidade.
Em tempos de revogação de direitos, efervescência política e iminência de uma coletiva desobediência civil, a televisão vai cumprir a tarefa de hipnotizar com a frivolidade.
O “público” é um mero coadjuvante
Há alguns anos, a força da mídia de massa era contestada por quem acreditava no fim do seu poderio. No Brasil esta constatação não se aplica. A televisão cumpre um dever visceral de construir símbolos rasos ou mesmo não aprofundar discussões em suas programações: aqui o que prevalece é a imposição de estereótipos, a massificação da riqueza, luxo, fama, holofotes. Quem assiste é a massa hipnotizada, desvalidos reais que sonham com um mundo inexistente.
A televisão que cria conceitos e modismos não ousa aprofundar discussões. Ela quer entreter no raso da subjetividade, onde o sujeito se vê como BBB, uma definição criada para quem participa ou participou de um reality show. Salvo raras exceções, estas personalidades não duram mais do que o apelo midiático do grupo que os ampara na efêmera fama. Este talvez seja um importante requisito para ser um brother: compreender que tudo aquilo é tão duradouro quanto as atenções mídia.
Cria-se um exército de adoradores de ídolos cujas qualidades são exaltadas porque discutiu, “fez barraco”, tem pavio curto; numa avalanche de votos e atenções desperdiçadas, o brasileiro adentra na câmara de produção de sentido onde o que mais importa é vigiar aquilo que está vigiado e monitorado por uma equipe 24 horas por dia; não há sobressalto, novidade, imprevisibilidade. Tudo está naturalmente estabelecido de acordo com as diretrizes de quem organiza o jogo. O “público” é somente um mero coadjuvante.
Ao longo do tempo surgiram pessoas que preferem evitar notícias, assistir ou mesmo discutir qualquer fato relacionado ao programa de entretenimento da TV Globo; os patrocínios e a audiência diminuíram; mudança de apresentador e regras não são medidas capazes de devolver ao Big Brother Brasil aquilo que ele jamais teve: a originalidade. Tudo soa falso e estabelecido por regras que o público não precisa saber. A televisão Brasil é simbolicamente um imã; um magnetismo das coisas fúteis.
***
Mailson Ramos é relações públicas e fundador do site Nossa Política
Observatório da Imprensa em 20/01/2017 na edição 931