Não é de hoje que A Grande Família - seriado que vai ao ar todas as
quintas-feiras, pela Globo - vem mostrando sinais de cansaço na sua
fórmula. Acostumado com uma certa leveza, texto bem humorado e situações
cômicas vividas pela família Silva e a vizinhança, o espectador deve
ter começado a observar que A Grande Família nem de longe parece aquela
série espontânea, com jeitinho de lar brasileiro exibida nas primeiras
temporadas. As coisas andam inconsistentes, reformuladas demais a ponto
de perder a essência, com um roteiro que nada impressiona e
raramente causa riso. Um pé na paciência de qualquer um.
Quando desenharam a série, havia como proposta levar à telinha
histórias que lembrassem os conflitos das famílias brasileiras, com
tipos iguaizinhos àqueles que todo mundo tem no meio da parentela. Em
2001, a Globo resolveu ressuscitar a série original, criada por Marcos
Freire, em 1972. Há onze anos no ar, Nenê (Marieta Severo), Lineu (Marco
Nanini), Tuco (Lúcio Mauro Filho), Bebel (Guta Stresser) e Agostinho
(Pedro Cardoso), temporada após temporada, são atualizados e
incorporados à realidade atual.
Só que, de lá para cá, muita coisa mudou. Infelizmente, para pior. O
roteiro está nitidamente sério, com desfechos bruscos e estranhos.
Aquela graça natural, que todo mundo gostava de acompanhar, não existe
mais. Ou, de tanto tentarem forçar a barra, chegou ao nível trash. A
sensação que se tem é que todos envolvidos no projeto, até o câmera,
cansaram de fazer aquilo há muito tempo.
O lamentável é que, A Grande Família, desde seu início, sempre foi uma
série que chamava a atenção até de quem não gostava muito de TV, por ter
um roteiro bem feito, dinâmico e pelos ótimos personagens criados
sob-medida. Toda essa receita fazia com que a atração fosse uma das mais
vistas do canal durante anos, com ótima audiência e
referências promissoras.
O grande problema é que tudo na TV tem prazo de validade. Quando uma
atração começa a dar esses gritos, o melhor é encerrar da melhor maneira
possível. Sair à francesa, com bom tom e sorrindo. Mas não é o que a
Globo anda fazendo, prefere seguir a linha do marasmo.
Para prender o público, e consequentemente a audiência, a emissora carioca usa e abusa de estratégias, esticando o bendito projeto até onde pode. Somente nessa temporada, Lineu passou quatro anos em coma, Nenê, personagem símbolo da dona de casa, apareceu de caso com o médico do marido, arrumou uma amiga periguete, a Kely interpretada por Katiuscia Canoro; Agostinho virou um empresário de sucesso metido nos golpes da política, a esposa Bebel se tornou uma perua e ambos vivem com dificuldades para criar Florianinho (Vinícius Moreno), o filho pré-adolescente. Paulão aparece pouco, mas sempre entupido de erros gramaticais; Tuco emplacou um programa com personagem afetado na TV; já Beiçola não é quase nada, e assim vai.
Para prender o público, e consequentemente a audiência, a emissora carioca usa e abusa de estratégias, esticando o bendito projeto até onde pode. Somente nessa temporada, Lineu passou quatro anos em coma, Nenê, personagem símbolo da dona de casa, apareceu de caso com o médico do marido, arrumou uma amiga periguete, a Kely interpretada por Katiuscia Canoro; Agostinho virou um empresário de sucesso metido nos golpes da política, a esposa Bebel se tornou uma perua e ambos vivem com dificuldades para criar Florianinho (Vinícius Moreno), o filho pré-adolescente. Paulão aparece pouco, mas sempre entupido de erros gramaticais; Tuco emplacou um programa com personagem afetado na TV; já Beiçola não é quase nada, e assim vai.
A história toda, principalmente nessa temporada, ficou completamente
descaracterizada, com os personagens desencontrados, cheios de
divergências (uma hora Nenê parece ser a dona de casa suburbana
conformada, outra hora ela quer ser a mulher independente) e não mais à
vontade como acontecia anteriormente. Além de empobrecedoras, elas
não funcionaram para trazer um novo fôlego à história.
Ainda que tenha uma boa equipe de redatores e diretores, certamente A
Grande Família não vai sair do raso. Pelo que se vê das séries Louco por
Elas e Tapas e Beijos, exibidas esse ano pela Globo, dá para perceber
um outro salto, outra linguagem, outro gás, que a família Silva não tem e
precisa como nunca precisou antes.
Fonte: Jornal A Tarde
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