“O Formigueiro”, apresentado pelo ator e humorista Marco Luque, é uma das piores atrações exibidas pela televisão aberta no Brasil. Nem mesmo os fãs do “CQC” aguentam o programa, que já mudou de horário desde sua estreia e nunca registrou bons índices de audiência.
O formato foi criado pela Quatro Cabezas, produtora argentina também responsável pelo “CQC”, “A Liga” e “Polícia 24h”. Por este bom histórico e por concorrer com atrações datadas dos sábados à tarde (filmes mofados na Record, “Caldeirão do Huck”, na Globo, e “Programa Raul Gil”, no SBT), “O Formigueiro” poderia ser uma boa opção para o horário.
Isso não acontece, pois a atração violenta todas as regras de um bom programa de entrevistas. As piadas e brincadeiras de Marco Luque causam vergonha alheia em vez de entretenimento. O apresentador não tem o menor tino para entrevistador e nada extrai de relevante dos convidados. Além disso, a atração é longa e totalmente sem ritmo. São 90 minutos desperdiçados diante da televisão.
A ruindade de “O Formigueiro” expõe um problema maior: a falta de bons programas de entrevistas e debates nas principais emissoras brasileiras abertas.
Conhecido nos Estados Unidos como talk show, o gênero é um dos protagonistas da programação das quatro principais redes (ABC, CBS, Fox e NBC). As atrações estão espalhadas ao longo do dia. Pela manhã, tarde ou noite é possível sintonizar em algum programa de entrevistas ou debate. Alguns deles são conhecidos aqui no Brasil, por serem exibidos na TV paga – “Late Show with David Letterman” (GNT), “The Oprah Winfrey Show” (GNT) e “The Tonight Show with Jay Leno” (Record News).
Enquanto isso, em terras tupiniquins, o gênero é desprezado pela Record, única emissora que não possui um programa de entrevistas ou de debates em sua programação nacional. No caso da RedeTV!, com exceção do “É Notícia”, focado em política e economia, ele não é levado a sério com o afetado “Amary Jr. Show” e os barraqueiros “A Tarde é Sua” e “Superpop”.
O SBT alterna entre o popularesco, o entretenimento e a informação com “Casos de Família”, “Hebe” e “De Frente com Gabi”, respectivamente. Que ninguém ache estranha a presença do programa comandado pela loira precursora da televisão brasileira entre as atrações listadas. De seu confortável sofá, Hebe já arrancou boas confissões de artistas, esportistas e outras personalidades.
Marília Gabriela aposta na informação. Seu programa não tem plateia ou banda de apoio. A apresentadora não faz graça de acontecimentos mais freqüentes, nem apela para o confronto mal educado. Desde sua estréia como apresentadora de talk shows, na Band, em 1987, com o “Cara a Cara”, Marília Gabriela mantém o status de melhor entrevistadora da televisão brasileira.
Jô Soares é outro nome com prestígio nesta área. Começou em 1988, com o “Jô Soares Onze e Meia”, no SBT. Em 1999, migrou para a Globo e estreou o “Programa do Jô”.
Sempre existiram ressalvas ao seu desempenho no comando de um talk show. Ele fala mais que seus entrevistados, interrompe exposições e costuma fazer piadas inadequadas. No entanto, seu programa era uma razoável opção para o início da madrugada até há alguns anos.
Os primeiros sinais de desgaste surgiram em 2004, quando a Globo substituiu parte das reprises do “Programa do Jô” durante as férias do apresentador. No lugar, a emissora começou a transmitir a série “24 Horas”. Jack Bauer turbinou a audiência do horário. Empolgada com o sucesso, a Globo manteve a estratégia nos anos posteriores e, em 2006, decidiu colocar mais um seriado em sua grade de programação durante as férias de Jô Soares. Após exibir a quarta temporada de “24 Horas”, emendou a transmissão do ano de estreia de “Lost”.
Outros sinais do desgaste do “Programa do Jô” aconteceram fora do período de férias do apresentador. Notícias sobre a queda de audiência da atração são cada vez mais frequentes na imprensa.
O Ibope inferior ao de outros tempos é perfeitamente compreensível. O “Programa do Jô” parou no tempo. Assim como o extinto “Casseta e Planeta, Urgente!”, se acomodou sobre o trono da emissora líder em audiência no país.
Outro problema grave é a aparente preguiça do entrevistador. Fica cada vez mais claro que Jô Soares, na maior parte do tempo, apenas lê as perguntas preparadas pela produção. Em alguns casos, a leitura é relapsa. Ele solta perguntas do tipo “e aí, me conta a história do periquito”. A questão é feita tão fora de contexto que, além de quebrar a dinâmica da entrevista, não é raro pegar o entrevistado de surpresa. “Periquito? Que periquito?”
Boas opções de entretenimento e informação, os programas de entrevistas e debates são mal aproveitados ou ignorados pelas emissoras abertas brasileiras. Infelizmente, elas preferem investir em atrações que atendam apenas aos interesses institucionais ou financeiros, como atrações religiosas, caça-níqueis ou filmes mofados de alguma prateleira no fundo dos arquivos. Depois, não adianta reclamar do avanço da internet. A televisão está perdendo relevância para ela mesma.
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