5 de março de 2013

Humor negro de “Pé na Cova” critica o preconceito e o politicamente correto.

Elenco de “Pé na Cova” (Foto: TV Globo)

Nada como o humor negro para brincar com a morte e lançar um olhar debochado e divertido sobre a tragédia humana (da pobreza e da morte). “A Família Addams” fazia mais ou menos isso, mas de uma forma bem amena, liberada para todos os públicos. As referências de “Pé na Cova” – o seriado de Miguel Falabella que vai ao ar às quintas-feiras – vão bem além. Enganou-se quem achou que Falabella iria “chupar” o plot da série americana “A Sete Palmos” (“Six Feet Under”), sobre uma família esquisita proprietária de uma funerária. A alusão termina aí para começar uma série de referências à cultura pop, de Almodóvar à novela “Avenida Brasil”.

Pé na Cova” é uma série de humor com personagens preconceituosos que denuncia o próprio preconceito. O funesto das situações apresentadas abranda a lente de contato que o programa lança sobre o que o ser humano tem pior: o preconceito – contra o pobre, contra o sem instrução, contra o negro, contra o homossexual. Guardadas as devidas proporções, os personagens lembram a família de Tufão de “Avenida Brasil”, principalmente quando fica claro no texto a crítica à educação nesse país.  O melhor exemplo disto foi apresentado no episódio em que a família de Ruço (Miguel Falabella) discute o significado da palavra “laico”: “Não quero saber de gente laica em minha casa não!” – bradou Ruço, o que ignora a laicidade – tema em voga no momento.

A família de “Pé na Cova” é uma espécie de “A Grande Família” às avessas, que renuncia a moral, a ética, as convenções socais e o politicamente correto em prol da própria sobrevivência e união. O incorreto é a verve de “Pé na Cova”. A maquiadora de defuntos Darlene é alcoólatra – Marília Pêra inspiradíssima – e não pensa duas vezes antes de surrupiar os cadáveres. O casal surreal Luz Divina (Eliana Rocha) e Juscelino (Alexandre Zacchia) parece saído da série “Os Monstros”. A família de Ruço tem uma empregada (Sabrina Korgut) ainda mais pobre e ignorante que eles. Alessanderson (Daniel Torres), o filho, se julga muito malandro e esperto. Odete Roitman (Luma Costa) – que nome maravilhoso! -, a filha, é a ninfeta que namora a mecânica sapatão – que se chama “Tamanco” (Mart´nália) – e ganha a vida se despindo na webcam com a conivência do pai e o total apoio da mãe. Afinal, é fácil ter preconceito quando não é com você. Para sobreviver, há que se despir de qualquer preconceito, concluiria Ruço.                                                                                       *Nilson Xavier

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