“Seria melhor ter ido ver o filme do Pelé.” A frase incansavelmente repetida em um episódio de “Chaves” quase transcendeu o seriado. Falecido nesta sexta-feira, aos 85 anos, o ator Roberto Gómez Bolaños chegou a receber um telefonema do Rei do Futebol, na década de 1970, interessado em gravar um longa-metragem ao lado dos famosos personagens mexicanos.
“Chespirito conversou com Pelé! Queríamos muito um filme dele, gravado no Brasil. Pena que não deu certo”, contou o ator Edgar Vivar, o intérprete do “Seu Barriga” e do “Nhonho”, em uma entrevista concedida para a Gazeta.net em 2012.
Com diversas referências ao futebol em sua obra, Bolaños não achava que o “Chaves” fosse um personagem propenso para estrelar nos cinemas. Torcedor fanático do América do México, ele chegou a gravar o longa “El Chanfle” para homenagear a equipe do coração, porém não levou adiante o projeto com Pelé.
Na versão original de Chaves, inclusive, “El Chanfle” é o verdadeiro “filme do Pelé” que o personagem principal teima em assistir quando vai ao cinema com Seu Barriga, Seu Madruga, Professor Girafales, Dona Florinda, Dona Clotilde e Chiquinha. A adaptação não diminui a admiração de Roberto Gómez Bolaños pelo ídolo brasileiro.
Em 2011, o ator se emocionou ao receber das mãos do apresentador Carlos Massa, o Ratinho, uma camisa da Seleção Brasileira autografada pelo ex-jogador. “Ao Rei do Humor, Chespirito, do amigo, Rei Pelé” foi o que o brasileiro escreveu no uniforme amarelo, o suficiente para deixar Bolaños com os olhos marejados. “Edson Arantes do Nascimento, Pelé. Muito obrigado. Meu coração é absolutamente seu”, ele agradeceu.
Na Copa do Mundo de 1970, disputada no México, todo o elenco de Chaves já havia conseguido se aproximar do Rei do Futebol. “Conheci o Pelé naquela ocasião, sabia? Em um evento de inauguração dos jogos, fiquei sentado duas ou três fileiras à frente dele. Nossa, era Pelé! Pelé! Eu não acreditava. Meu coração começou a bater mais forte ao vê-lo. Só não pude apertar a sua mão porque ele estava em um lugar afastado, especial, perto do presidente do México”, recordou Edgar Vivar, o Seu Barriga.
Mais de quatro décadas depois, quem chamou a atenção em uma Copa do Mundo realizada no Brasil foi o próprio Chaves. Em grande número no País, os torcedores mexicanos se fantasiaram com trajes do consagrado personagem mexicano – e também do herói Chapolin Colorado – para torcer por sua seleção no torneio vencido pela Alemanha.
Chaves ainda influenciou muitos dos grandes jogadores dessa geração. Astros do Barcelona, o argentino Messi e o brasileiro Neymar já se vestiram de “Quico”, mais uma criação de Bolaños, para participar de festas à fantasia.
Luto em Tangamandápio
Pequena cidade mexicana que ganhou fama por causa do personagem “Jaiminho”, de Chaves, Tangamandápio está de luto com a notícia da morte de Roberto Gómez Bolaños.
“Estamos consternados, já que ele foi uma pessoa com capacidade de fazer rir crianças, jovens e adultos com um humor limpo, claro e honesto. Ainda não acreditamos no que nos informou a televisão. Talvez Deus tenha decidido que esse é o melhor caminho e que ele deva descansar em paz. Nessa altura, já deve estar fazendo rir o Todo-Poderoso”, comentou Roberto Escobar, ex-carteiro (tal qual Jaiminho) em Tangamandápio.
O mexicano aproveitou para desejar melhoras a Pelé, internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Albert Einstein, com infecção renal. “Lamentamos que o Pelé esteja doente e vamos rogar ao Criador que dê o melhor a ele. Ele sempre colocou o Brasil e o futebol no alto. Aqui, no México, é lembrado como um grande ídolo”, disse Escobar.
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