16 de fevereiro de 2013

Com Bozo, SBT mira nos adultos para acertar as crianças.

A emissora de Silvio Santos apela para a nostalgia dos pais como estratégia para convencer o público infantil a assistir o palhaço que foi hit há 30 anos

Bozo está de volta para apresentar programa semanal aos sábados na grade do SBT

Uma vez por semana, a partir deste sábado, a programação do SBT vai virar uma espécie de túnel do tempo para quem foi criança nos anos 80. É quando a emissora volta a exibir o programa Bozo, sucesso absoluto entre o público infantil por mais de dez anos, até 1991, quando saiu do ar. Retomar uma atração que fez sucesso há 30 anos – e convencer as crianças de hoje a assisti-la – é a mais nova faceta da velha estratégia adotada pela emissora de Silvio Santos: apelar para a nostalgia dos espectadores de outros tempos, mais dourados certamente, a fim de atrair público novo. A tática já se mostrou bem-sucedida no remake de Carrossel, que recolocou o SBT na vice-liderança no horário nobre, e vai ser repetida em outubro, mês de estreia da nova versão de Chiquititas. Por isso, passou a ser assumida abertamente pela direção. "Não estamos só focando na criança, o objetivo é mais abrangente, é a família. Os pais vão trazer a criança de volta para o Bozo", diz Flávio Carlini, diretor do programa do palhaço.

A volta ao passado se estende aos bastidores da estreia. Assim como Carlini e o roteirista William Tucci, cerca de 40% da equipe técnica trabalhou em algum momento durante os dez anos em que Bozo esteve no ar no SBT. Para o diretor, que conduziu o infantil entre 1986 e 1989, a coincidência é mais uma coisa positiva do que um indício da ausência de arrojo criativo na programação que a TV aberta produz para as crianças. “Todos tiveram muito carinho em trazer de volta o Bozo. Flagrei técnicos, contrarregras e maquinistas observando emocionados o cenário”, diz Carlini.

Uma das únicas atualizações do programa é a direção de arte. O palhaço de enormes tufos de cabelo vermelho e o cenário ao seu redor vão ter cores bem mais nítidas e vibrantes na versão 2013. De resto – músicas, brincadeiras e até o mistério em torno da identidade do novo Bozo – é tudo igual. Quase tudo. A famosa corrida de cavalinhos, que inspirava crianças a gritar a cor preferida do animal diante da TV nos anos 80, vai ficar de fora. Falta compensada pela retomada de hits como Tumbalacatumba, Chuveiro, Chuveiro e 1, 2, 3... Vamos Lá -- que contém o inesquecível refrão "Alô, criançada, o Bozo chegou". O carisma do palhaço foi testado em dezembro no comando do matinal Bom Dia & Cia e teve bom resultado no Ibope, incomodando a audiência do programa de Fátima Bernardes.

A bíblia do Bozo - A manutenção das características do programa é exigência da Larry Harmon Pictures Corporation, empresa que detém os direitos de imagem e reprodução do Bozo – e também da dupla Gordo e Magro. O engessamento do formato é tanto que, nos bastidores, as diretrizes são chamadas de bíblia pela equipe. O texto sagrado seguido desde 1949, ano da primeira aparição do palhaço na TV, é encabeçado por duas palavras, que funcionam como uma ordem: "sempre rir", título da canção de encerramento do programa.

As demais regras mandam o ator por trás do enorme nariz vermelho tratar a criança com carinho e agregar conhecimento à diversão, mas sem abusar do didatismo. "Temos que dar uma volta na criança e fazê-la aprender sem que ela perceba."

Também é proibido revelar os nomes dos intérpretes de Bozo, Vovó Mafalda, Papai Papudo e Salci Fufú. Essa regra foi afrouxada nos anos 1980 já que era fácil reconhecer Pedro de Lara por baixo do figurino do inventor Salci Fufú e também o cantor Valentino Guzzo como a senhora com um morango no lugar do nariz. Carlini dá a dica para descobrir quem é o novo Bozo, já vivido no Brasil pelo comediante Wandeko Pipoca, o apresentador Luís Ricardo e o atual pastor evangélico Arlindo Barreto, entre outros. "Experiência circense foi um diferencial  do escolhido."

Mais do que se esforçar para fazer as crianças aprenderem sem didatismo, o personagem nascido há 64 anos vai ter que rebolar para se manter relevante, se o sapato comprido permitir o gingado. Um desafio e tanto para quem tem um lugar cativo na memória afetiva de uma geração e, ao mesmo tempo, uma enorme lacuna para preencher na renovação da programação infantil na TV.

Por: VEJA

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