Em um perfeito texto (na integra abaixo) Nilson Xavier traduz o sentimento que tive no segundo dia de exibição da nova novela das 9 da Rede Globo. É claro que analisando todo o contexto, a novela ainda tem muitos méritos e nada lembra a sua antecessora, a sonífera “Salve Jorge”.
Confiram:
Em sua terceira semana de exibição, já dá pra sentir qual é a de “Amor à Vida”. Após um capítulo de estreia de tirar o fôlego, a novela entrou em um ritmo normal, do qual já notamos o que está fazendo sucesso. E os comentários gerais são basicamente para dois personagens: o vilão Félix – a “bicha má”, como já foi apelidado -, muito bem defendido por Mateus Solano, e a periguete Valdirene, a personagem de Tatá Werneck.
No início, o vilão de Mateus Solano entusiasmou o público, com suas tiradas sarcásticas e venenosas. Já foi chamado de “Carminha de calças”, mas agora está mais para uma mistura de Carminha (sem o carisma dela) com Crô (sem o visual extravagante dele) – alusão aos personagens de Adriana Esteves em “Avenida Brasil” e Marcelo Serrado em “Fina Estampa”.
Félix já dá sinais de cansaço no público e corre o risco de cair no buraco fundo da chatice – vide a necessidade de soltar uma frase de efeito a toda fala, e a repetição cansativa de seus bordões “Salguei a Santa Ceia!” e “Pelas contas do rosário!”.
A culpa não é do ator. Falta sutileza no texto de Walcyr Carrasco, que já pega pesado no melodrama de sua trama central. Por vezes, temos a impressão de que os atores estão declamando um jogral em cena. Funcionava nas novelas de época do autor, às seis horas, e eram suportáveis em suas comédias das sete. Mas a coisa muda de figura no horário nobre, que exige um tantinho de naturalismo. A bicha má precisava segurar a pinta e ganhar novos contornos. Pode começar variando a sua verborragia de referências católicas.
Por outro lado, Valdirene anda na contramão do texto de Carrasco. Esta sim parece mais solta em cena, mais à vontade. Sua dobradinha com a ótima Elizabeth Savallaé de, no mínimo, pôr um sorriso no rosto. Diferente de outras periguetes recentes da ficção (Suelen/Ísis Valverde de “Avenida Brasil” ou Maria Vanúbia/Roberta Rodrigues de “Salve Jorge”), Tatá construiu um tipo mais humano de pergiuete: a que se acha irresistível (alimentada pela fantasia da mãe carreirista), mas é desengonçada, pouco inteligente, e que repete os mesmos erros sem perceber.
Valdirene já tentou, sem sucesso, um contato íntimo com Neymar, Gusttavo Lima eVitor Belfort. Talvez ela e a mãezoca Márcia invistam ainda em outros alvos. Mas sabemos que a personagem terá uma virada – conhecerá Jesus e se tornará evangélica – o que vai dar margem para Tatá Werneck deitar e rolar com novas nuances para sua personagem.
Talvez seja ainda cedo para cantar a vitória (Valdirene). Mas é um bom momento para aparar certas arestas (Félix).
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